domingo, 30 de dezembro de 2012

12 a dividir por 4



Em jeito de despedida começo um resumo, que é tão necessário, para um fim.

De três em três. 
Foi devagar, depressa, estático.
Começou pelo fim e acabou em início. Incluiu purgatório.
Pele e cabelo claro.
De tez verde, vermelha. De sangue frio que jorra para acabar com a apatia.
Tin-Tin nos trópicos. Curto.
O vidro parte-se. Primavera. 
De três para...
A prima, que vive fora, falou de sol. Veio Abril.
Amores mil. 
Dores de a dois viver. 
Corda que o vil levou.
Recompensas elucidativas, quentes. 
Música à chuva. Corações.
Vondelpark, beliches de menta.
Partidas.
Três, dois, um, ação! 
Luz, som, imagem. 
Vídeo em forma de presságio. 
Surpresa. 
Cinza, mostarda.
Autocarro, avião, pop to the push. 
Chegadas cheias, boas.
Jesus is born. 
The world didn't end.
2, 1.
Adeus. 
Sejas bem-vindo,13 is a good luck number.








quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O Que Faz de Mim, Eu.

A distância entre o ser e o quase ser é imensurável. 
Certo!
Seja como for, isso é-me completamente alheio. Estou mais focada na compreensão de o que sou.

Sabendo que nunca chegarei a uma conclusão factual e imutável, vou portanto focar-me no que sei que não é de mim. 


Desculpo-me já por qualquer narcisismo que se sinta no ar, mas este blog é meu e aqui mando eu!

Gostava de poder mandar em muitas coisas. Não me é permitido, portanto exerço aqui a minha quota parte de poder, mesmo que tudo isto tenha apenas um V de vai.

Gostaria de perguntar a alguém o que não é de mim. Não é possível, porque hoje sou só eu.

Pergunto a mim mesma, num jogo retórico, então.

Aqui vai, 

Não sou transtornada.
Não sou acanhada.
Não sou de bem nem de mal. Talvez seja de outra ordem ainda por engendrar.
Não sou pequena. Os anões fazem-me espécie.
Não sou de Lisboa, mas também não sou do Porto. Serei uma cidadã do mundo?
Não sou tretas.
Não sou imperceptível.
Não sou desconfiada.
Não sou cidade, campo, espaço. Acho que sou mar.
Não sou marinheiro. Talvez seja peixe-voador.
Não voo demasiado, mas também não tenho os pés no chão.
Não sou sexta-feira. 
Não sou domingo. Quartas inesperadas sabem melhor.
Não sou sol, chuva, vento. Prefiro trovoada com filme de terror e companhia.
Não sou do lar, da rua. Entretantos parecem ser mais acolhedores.
Não sou do passado ou do presente. Mas o futuro é meu, certamente.
Não sou de posses, desvios, adultérios.
Não sou de prolongamentos ou de cortes repentinos.
Não sou de falsas modéstias ou de elogios vãos.
Não sou dissimulada, distraída, conivente.
Não sou de lóbis corrosivos.
Não sou despótica.
Não sou da guerra-sem-razão ou da paz-porque-sim. Sou de causas.

O que faz de mim, eu?
Eu faço de mim o que quiser, sem fazer. 
Não que seja re-activa. Proactiva é o meu nome do meio, mas...
Sou um encadeamento de acções, onde nas quais tomo atitudes.
Não ando com as marés. I'm on the outside and underwater.

Cansei-me de passeios.

Estendi a toalha na areia, o guarda-sol traz-me conforto e o peso de mim faz com que não me apeteça levantar para ver quem por aí anda a velejar.
Levanto-me quanto vir âncoras serem lançadas ao mar. Quando a Nau aqui atracar.

Não posso querer ser nada enquanto não souber ao certo para onde quero ir e, até lá, continuarei a ser algo que não sei exactamente o que é nem onde exactamente está, nos confins de mim.

Eu, pessoal e intransmissível.

Eu, para sempre, por escolha.



















segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Bullying-gore em Segunda-mão


Quem é que se lembra do Columbine e do Virginia Tech?

 Sweat-shirt oficial do Virginia Polytechnic Institute and State University
Well, I do.

3 adolescentes perturbados, 2 massacres, 48 mortes prematuras, 2 estados, um país de bullying-gore.

Dos EUA, com amor.

O primeiro aconteceu no estado do Colorado, no dia 20 de Abril de 1999, no Columbine High School.
Diz-se muito sobre Eric e Dylan, os atiradores, mas de factos, não se sabe assim tanto.

18 e 17, respectivamente. 
Loiros, amigos, detentores de um plano. 
Duas facas e explosivos. 
13 mortes.
Homicidas-suícidas.

É tudo o que é indubitavelmente verdadeiro.
Os Serviços Secretos americano associaram os antecedentes criminais dos jovens e respectivas condenações em centros de correcção a casos isolados de bullying no Columbine.
Houve quem dissesse que faziam parte de um grupo de sub-cultura goth. Outros juraram que pertenciam aos Trenchcoat Mafia.
Eric sofria de sociopatia no seu mais elevado estado, psicopatia.
Dylan havia sido diagnosticado com bipolaridade. Ambos tinham um plano de vingança colectiva. 
Mas porquê?
Nunca se saberá ao certo. Uma espécie de funny games.
Deixaram, porém, registos, bilhetes com pensamentos e o plano integral.
A ideia seria matar em grande escala. 
Ultrapassar as histórias das maiores chacinas, abater mais de 600 pessoas através de bombas, mas um erro de cálculo/ligação dos fios evitou um mal maior.

Todos os materiais usados pelos dois jovens para a construção das bombas, tal como as armas, eram legais.

8 anos mais tarde, dia 16 de Abril de 2007, no estado da Virginia, soube-se que um estudante de 23 anos, Cho Seung-Hui, teria feito algo muito semelhante. Matou 32 pessoas, recorrendo a duas armas semi-automáticas comuns.

Durante as investigações foram encontradas algumas notas escritas por Cho, como "I blame rich kids. You caused me to do this." ou vídeos onde mencionava que Eric Harris e Dylan Klebold seriam mártires, demonstrando algum afecto pelos autores do, até então, maior massacre Americano.
Diz-se também que um amor não correspondido por outra estudante da mesma universidade, poderia ser a causa de uma depressão que se foi agravando.

8 anos depois, após inúmeros acidentes, assaltos e massacres de outras escalas, as armas continuavam a ser legais e de acesso facilitado. 
Até aos dias de hoje. 

Comprei esta camisola há cerca de um ano na Feira da Ladra.
Chamou-me à atenção pela cor, pelo lettering tipicamente universitário, pelo preço.
Custou-me 1€.

"Virginia Tech, Virginia tech...
Gus Van Sant, Elephant, Michael Moore, Bowling For Columbine...VIRGINIA TECH!"

Ainda hoje me pergunto como é que esta sweat-shirt veio parar a Portugal, às minhas mãos.
Terá sido de algum português que lá estudara? 
Terá sido de uma vítima do massacre?
Terá alguém assistido a tudo, enquanto vestido com aquela camisola?

Seja como for, comprar roupa, ou qualquer outro objecto, em segunda-mão é muito mais que ser hipster/trashy/fashion/vintage/cool/wtf#/?&%$@. 

É ser corajoso o suficiente para perceber que ao comprar aquela determinada peça, se está obrigatoriamente a comprar aquela determinada história, boa ou má, mas nunca nossa, que ao contrário das nódoas da camisola, nunca sairá...

domingo, 11 de novembro de 2012

Got too deep, but how deep is too deep?

Ontem à noite cometi um crime.
Ontem à noite escrevi numa parede do Bairro Alto.
Ontem à noite escrevi, com caneta lavável, "Whatever people say I am, that's what I'm not" na parede que faz esquina com o nº3 da Rua da Barroca.
Ontem à noite enquanto escrevia, pediram-me abruptamente para parar.

Parei.

Ontem à noite, passados 10 minutos de ter obedecido ao pedido da funcionária do bar no nº3, eu e alguns amigos fomos alvo de violência gratuita por parte de dois seguranças off the record.

Estavam vestidos de preto, não tinham mais de 1,75m, um com gel e outro de cabeça rapada.
Ambos repletos da musculatura típica exigida aos seguranças nocturnos e na posse de um cassetete.

Nós estávamos na nossa.
Éramos sobretudo raparigas e, foi sobretudo nas raparigas que bateram.

Houve quem entrasse em nossa defesa, por estarmos claramente em desvantagem.

Lembro-me de perguntar o porquê aos que me agrediam.
Lembro-me de retaliar, porque aconteça o que acontecer, nunca permitirei que me batam, seja por que motivo for.
Considero-me pacifista e, como tal, enquanto me tentava defender liguei ao 112.
Um amigo fez o mesmo. Sem efeito.
Posto isto, sou empurrada. Aproximo-me, batem-me com o cassetete na cara.
Ao cair, protejo a cara com as mãos, esfolando o pulso, magoando o dedo anelar esquerdo e fazendo algumas nódoas negras nos joelhos.

Fomos à polícia. Fomos com num carro de patrulha ao bar do nº3 da Rua da Barroca, onde nos negaram a existência de qualquer segurança.
Curioso.

Teremos que identificar os agressores para avançar com a queixa, a conselho dos agentes da Pj.
Trabalho necessariamente feito por nós, deslocando-nos regularmente ao bar onde fomos agredidos, para poder apanhar em flagrante a colaboração dos dois homens com a gerência do espaço.
Sugeitamo-nos portanto a uma nova agressão.


Hoje acordei com o dedo anelar esquerdo roxo e tem vindo a piorar ao longo do dia. Não tenho a certeza que esteja partido, mas provavelmente está.
Vou agora ao hospital, onde terei de dizer que caí porque se disser que fui agredida os custos serão inflacionados e pagos por mim, na eventualidade de nunca se vir a identificar os agressores.

Confesso que perdi a esperança em qualquer tipo de justiça.

Cometi um crime bastante vulgar mas fui também vítima de um crime não tão vulgar, totalmente menosprezado.


"Last night these two bouncers and one of em's alright, the other one's the scary one.
His way or no way, totalitarian. He's got no time for you. Looking or breathing. (...)

I thought a thousand million things that I could never think this morning.
Got too deep, but how deep is too deep?
This town's a different town today. This town's a different town to what it was last night.
You couldn't have done that on a Sunday"
- From The Ritz To The Rubble, Whatever People Say I Am, That's What I'm Not, Arctic Monkeys, 2006 -














quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Isto Não é um Funeral, é uma Festa.


Acabam sempre por partir. Estão presentes, mas não fisicamente.
Não, não é de entes queridos que se finaram que falo. Refiro-me a entes queridos que viajaram.

Por muito tempo.

Será mais fácil ir ou ficar?
Fácil não é certamente. Nem ir, muito menos ficar.

Ficar, só por si, carrega uma conotação forte. Neste caso tende a cair para a estagnação...
E só por mim, estou. 

Fico.

Existo.

Não, também não é uma fase de crise existencial.
Ou se calhar é, sem ser. 
Não se trata de uma crise existencial acneica.


A consciência, a clarividência, a ponderação...São qualidades, noutras circunstâncias.
Trata-se de um combinado resultante no insustentável peso do ser.
De um peso paradoxal, que é na realidade, tão leve que existe na forma de buraco na alma.

Quero e preciso de deixar partir a mulher de 40 anos que habita em mim. 
Preciso de a enterrar. Estou até a pensar começar a tratar-lhe do funeral! 
Ela sabe que música gostaria de ter como pano de fundo, o que vestiria, quem gostaria que estivesse presente.
Ela sabe demasiado.
Terei de a matar.
Ela come-me as entranhas e eu sem estranhar. 

Mas hoje estranho!

Estou pronta para chegadas.
Estarão as chegadas prontas para mim?

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Rua do Alt Ruísmo ou Ups! I Did It Again! um texto para gajas


É tudo muito lindo.
Gostamos todas muito umas das outras.
Tanto.
MY ASS.

O pior, é quando tudo fica feio.

Existem vários tipo de feio:
O feio belo.
O feio estranho.
O feio, porco e mau.
O feio porque ser feio não dá trabalho. E ser bonito também não o deve dar.
O feio que nunca deixou de o ser, mas que achámos ser bonito qb.

E depois, há o feio inóspito.

E era aqui que queria chegar, amigas.
Sim, porque este texto é para gajas!

Para as gajas a quem o carapuço servir.
Mas acima de tudo, para gajas de mangas arregaçadas e alma pura.

O feio inóspito acompanha-nos. A nós, às boas.
Às boas merdas.
Às que ajudam sem precisarem que lhes peçam.
Às que só afirmam quando sabem.
Às que vêem algo de bonito num hospital psiquiátrico degradado.
Às boas que de tão boas, se tornam calçada pisada ou sarjeta na Rua do Alt Ruísmo.

I have many things to say, but here's one: I'm not surprised.

Here's another: Vai-te roer.

O feio de inóspito é característica daquelas amizades bonitas, poéticas e verdadeiras.
Daquelas pelas quais se rema contra a corrente, porque a corrente nunca tem razão.

Ups! I did it again!

Ou seja, aquelas amizades que nunca fizeram grande sentido, mas para as quais se inventa um.
Porque algures pelo caminho, pareceu que eles queriam mesmo saber de nós.
E cheia de nós no estômago, estou eu!

Mas isto é ± como um cancro benigno.
É mau.
Dói.
Toda a gente tem imensa pena.
E para se remover, corta-se.

Just rip off the band-aid!

A verdade é que nunca foi confortável.
A amizade, fora de frases feitas, deve ser como aquele par de ténis que adoramos calçar.
Super desportivos, que nem fazem muito o nosso género, mas que têm A qualidade super essencial.
Serem super confortáveis.

Quando odeio algo, e se me permitem, penso que se aplica à generalidade, é por um destes motivos:
Porque odeio.
Ou porque secretamente invejo. Sendo este um COMUM caso de sublimação!
Freud explica.
E quando secretamente invejo, reflicto e permito-me, simplesmente, gostar.

Nunca fui menina de me privar.

Mas trago más notícias.
Vai ser sempre assim.
As amizades, x, são inversamente proporcionais à franqueza, y.
Se y aumenta, x decresce.

Nota: y pode adoptar a forma de sucesso, felicidade, vida sentimental, posses materiais, viagens, etc.

O que quero dizer é que toda a gente adora uma coitadinha.

O problema é que eu odeio coitadinhas!
Nunca serei uma.

Antes inconformada que coitadinha!

E ser coitadinha não é dizer o que se sente.
Não é ser franca.
Não é ver na humildade uma peça de roupa clássica.
É conformar-se, enquanto se chora um mar.

Chora! Por favor, chora.

Sempre me ensinaste que ser forte é que era.
E que pavonear-se, desdobrando-se em elogios vagos/genéricos a tudo o que é passado era a way to go.
A guardar um cubo de gelo debaixo da língua.

A guardar algo debaixo da língua, que seja um ácido. 
Sempre deve ser mais sentimental...

Sempre fui má aluna à tua cadeira.
Até tomava atenção às aulas, mas não me sentia no curso certo.

Agora, parece que reprovei.

Choro pelo tempo perdido, claro.
Mas choro.
Porque quem chora e expõe, em vez de amuar, deveria ser galardoado com uma ave rara.

Como que quem manda beijinhos, aqui fica um .I.
De quem prefere estar sozinha a mal acompanhada.

Brindemos.

Ajusto a laçada que prende a capa ao meu pescoço.
Levanto o braço esquerdo e voo para a Restart.

Wonder Woman,
A mandar snobbish people para a estratosfera desde o início das escavações de Pompeia e Herculano.




































domingo, 7 de outubro de 2012

It´s okay! You’re having such a nice time…’till you’re not.

Um copo. Outro e já me rio com maior desinibição. 
Atravesso parte de Lisboa na busca de algo, mas o caminho não deixa de ser peculiarmente divertido.
Golo de Porto, some bar e, não paro de mexer os pés. Depeche Mode às vezes soa bem, em ocasiões do acaso, não menos pleonásticas que a própria frase, porque até aqui, nada de novo.
Puff, you´re drunk!
 It´s okay, you’re having such a nice time...
A música acaba, apagam as luzes e, de repente, a ideia de regressar ao ninho torna-se deliciosa. Malditos lençóis! O carro fica em casa, não faço questão de morrer prematuramente num desastre desnecessário. O táxi é um luxo ao qual me rendo por vezes, mas não hoje. Night bus It is, then! Somos 6, perfeito. Corro para os lugares do fundo. Hoje são nossos! Eram. Ele atrasa-se a entrar no autocarro, ela prende-se com qualquer coisa, elas conversam e, os lugares deixam de ser nossos para serem partilhados com outro grupo, constituído inteiramente por indivíduos do sexo masculino cheios de creolo. Os meus amigos dividem-se pelos bancos que sobram e pelo chão. Não interessa, a moral ainda está elevada. A grupeta, que partilha connosco a mesma área do autocarro nocturno, parece divertida.
Ouvem-se zun-zuns de maxismo, acompanhados com remates indecifráveis. Entretanto, a X e a Y beijam-se.
Eu começo a ter algum sono e vou-me encostando à janela. A X e a Y são abordadas por um membro da grupeta. É o menino do coro, deduzo eu incorrectamente e, vou fechando os olhos, ouvindo como quem não retém a totalidade da informação.
“São namoradas? Ah sim? Hmm, que giro.” diz ele, vestido de cor de rosa. Acordo. Estou agora atenta. Parece-me que vem aí uma daquelas viagens preenchidas. Prossegue em creolo, com os seus amigos, juntando riso histérico e apimentando a conversa. Volta à carga. “Vocês são todos pink friends?”. Ninguém percebe, nunca tinha ouvido tal expressão. Respondemos com gargalhadas e com um sim geral. Desvalorizando.
A conversa é dada como monólogo, a um certo ponto. Parte proferido em português arrastado, ainda que claro. Parte em creolo cobardolas, como lhe chamei. As injúrias chovem, vêm encriptadas, daí o cobardolas.
Dou por mim num confronto aceso com fracassados da vida. É a distribuição gratuita de pérolas a porcos da semana, mais precisamente. Apesar de aceso, formalmente, parece uma animação. Todos nos rimos, de qualquer uma das frentes. E o autocarro ri-se connosco, pelo menos metade. Temos as costas quentes, estão do nosso lado. A temática torna-se pesada. A agressividade aumenta e a grupeta não esconde uma personalidade colectiva, fortemente caracterizada por um chauvinismo disfarçado. A aparência Cr7 e relógio moderno é ilusória. Perguntam-nos se queremos ir para casa com eles. Respondo-lhes que assim não vão longe, vão perto. Ali à esquina! Nenhuma mulher no seu estado perfeito de consciência e, conhecimento dos seus direitos, se sujeita a tais estafermos, a menos que seja a sua profissão. Estou furiosa! A X e a Y saem na devida paragem. O M sai na seguinte. O nosso grupo fica reduzido a 3. Saímos daqui a duas paragens.
Eles melhoram o seu jogo. Sentam-se ao pé de mim e tentam tocar-me. Não deixo. Levanto-me, desvio a besta em forma de homem que tenta levar de mim algo que nunca teria senão à força. Olho-o nos olhos e digo-lhe palavras que engole com espanto. Tudo bem perto da sua cara…De igual, para igual, como tanto se tem lutado por. E acredito que tenha ouvido algo de novo. Senti-o desconfortável. Não acredito porém que o tenha mudado. Talvez ferido. Numa qualquer outra noite, estas provocações passariam, entredentes, mas passariam. Hoje não.
Hoje verbalizei verdades terríveis, que podem fazer-me parecer incompreensiva, snob, séria de mais. Oh, fuck it! Já aturei o suficiente! E por mim e por todas as raparigas que preferem, sendo perfeitamente justificável, encostar-se ao vidro, ligarem o mp3 e fingir que este tipo de assédios não acontecem com elas, mandei-os à merda. Não se trata de discriminações a minorias, nada disso. Trata-se de discriminações bem gerais, que se resumem a transeuntes infortunados com a dádiva de terem lábios, peito e pernas.
Não se trata também de um feminismo delinquente, provocador. É algo maior. Não me sinto segura, quanto mais confortável na posição de passiva distraída. É uma realidade, tal como é uma realidade que enquanto se coordenam milhares de unidades policiais para a proteção de determinadas elites governamentais, centenas de autocarros nocturnos sejam todas as noites, arenas de touradas morais, roubos violentos, desacatos infantis com desfechos sórdidos.
Não me quero armar em sensacionalista rancorosa, quero só expressar o meu cansaço face a uma luta amarga, que os que não gostam de comer e calar, vão levando, nestas viagens pós-saída. …’Till you were not.


domingo, 12 de agosto de 2012

Free will vs Horoscope

  "O futuro é teu", "O futuro a Deus pertence" ou "O que será, será" são expressões que circulam entre nós que nem gíria. Caiem que nem Xanax quando mais precisamos e, especialmente, por sabermos que no matter what, só o próprio tempo revelará o futuro.
 
 
 Porquê? Porque é que queremos tanto adiantar a nossa história?
 
 
 Ora passamos tardes a olhar para o céu, revivendo momentos que foram envelhecendo bem, porque assim o quisemos, porque os editámos para que fossem dignos e não fidedignos. Ora perdemos horas de sono imaginando o que virá. E, é aqui que começa a hipocrisia.

   Não acredito. Sou céptica! Não acredito, mas...às vezes dá jeito recorrer ao tarot, ao horóscopo, ao mapa astral, para que anestesiar a ansiedade, caso a previsão seja boa. Se for má....
   Sou portanto, uma hipócrita. Uma, no meio de tantos.

   Vivemos numa sociedade onde "The Time Is Now" não passa de uma das melhores música dos Moloko, porque o agora, a nada nos interessa. Digo merda, merda a nós, desinteressados no presente! Culpo a MEO, todas as marcas de comida instantânea, incluindo as que usufruo semanalmente, as cadeias de fast food, os cintos mágicos que transformam banhas em abdominais, tudo o que deveria demorar e é feito para ontem!

   Quero que o horóscopo, a MEO, e tudo o que referi antes, se foda. Não, não tenciono ser politicamente correcta neste texto. Quero que o dia de hoje, seja que dia marcar o calendário, seja sempre o mais importante. Chega de nos enganarmos, por vontade própria, com previsões duvidosas, contraproducentes, ranhosas!
 
 Livre arbítrio para sempre e essa tretas todas. Quem se engana por crer, é pior que banana.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Voyeurismos de 1x2,30m

  Sou terrível.
  Começo o meu turno a medo. Medo do tempo psicológico. Esse sacana! Vem de 10 em 10 minutos, entre dentes, lembrar-me que falta menos que há pouco mas sempre mais do que espero.  E entre gentes que entram e saem, procuro, sem cessar, algo que me distraia.
  E é então que me sinto terrível.
  A porta fica aberta todo o dia. Tem cerca de 1 metro por 2,30. Permite ver uma pequena porção do jardim do Príncipe Real, um banco no passeio e uma passadeira. Convida a muito mais e eu cedo.
  É frequente ver o João Botelho a subir e a descer a rua, carregando papéis debaixo do braço e com o seu ar atarefado. Passa um ou outro actor género a neverending story "Bananas Fora de Prazo", um ou outro ministro e uma boa dose de ilustres desconhecidos. Muitos carros, aliás, demasiados...Enfim. Mas curioso, curioso, é o banco.
  Sou mesmo terrível.
  O único banco para o qual me é consentido olhar, é palco de tragédias colossais e de amenas cavaqueiras.   E eu...eu papo tudo. Sou um monstro, um fingidor e, sofro! Finjo tão completamente, que chego a fingir que é dor, a dor que deveras sinto.
   
O casal de pessoas menos novas que lá se senta regularmente, intriga-me! Permanecem na mesma posição durante horas. Não olham um para o outro. Olham para os lados, sempre para os lados e a frente também é um lado quando não se quer cruzar olhares.  
   Estarão fartos um do outro? Há quantos anos partilharão a mesma cama? Será que se casaram por amor ou conveniência? São tantas as perguntas e, de repente, sou um deles e levo a dor para cova.
   Há dias em que o banco está vago e vai sendo ponto de paragens aleatórias. São maioritariamente os jovens de uma faculdade da zona que o roubam por minutos. Fumam o seu cigarro, maioritariamente cravado. Proferem a sua reclamação, maioritariamente para com professores. Riem, desdenham, provocam e, maioritariamente, namoram. Mas se houve paragem aleatória que me tocou, foi a de duas raparigas.
   Há uns dias olhava eu para o banco como quem olha para o nada. Não assimilava qualquer tipo de informação. Encontrava-me submergida em pensamentos triviais, quando algo de relevante me pesca e me põe os pés no chão. Uma rapariga com vinte e poucos, senta-se de rompante, larga a mochila, leva as mãos à cara. Alguns segundos depois surge uma outra rapariga que se senta. A sua linguagem corporal é mais relaxada. Volto a direccionar o meu olhar para a que chora. Sim, já chora. Começo por pensar que se lamenta da vida. Insucesso escolar, família, doença...Começa a enumerar qualquer coisa. Agarra na cara da mais relaxada. Apercebo-me minutos mais tarde que "mais relaxada" quer no fundo dizer "estou-me a cagar". Entre lágrimas e suspiros, são os revirar de olhos que me chateiam. É como ver uma criança sozinha a atravessar em slow motion a rotunda do Marquês, e não fazer nada! Há tanto de não quero saber como de vou morrer se me deixares. "Do you have sardines in another color?" Chega um cliente. São namoradas. Eram. Fico de coração partido.
  São os que se sentam sozinhos, a ler, os que se sentam só, e só, se sentem confortáveis. Os que apenas observam qualquer coisa já fora do meu alcance de visão, ou quem sabe, também do deles. Os que ouvem música e marcam o ritmo com as mãos enquanto esperam por ela, por ele, por daqui a bocado, pelo tempo que passa rápido quando queremos e devagar quando é penoso. Quando nos tenta romper uma cicatriz já fechada. Quando nos lembra, enquanto vivemos a vida de outros, que ainda temos auto-curativos a fazer. Pelo tempo que também eu espero, noutro banco, do outro lado da rua, naquela loja pequenina que não dá muito nas vistas.
Acho que afinal não sou assim tão terrível. O penso é que só tapou a ferida, que teima em não fechar. E eu que não sei porquê...Vou-lhe meter um banco em cima. Pode ser que estaque. 

  
 

quarta-feira, 28 de março de 2012

In Mysterious Ways

E então o tempo passa.
Lembras-te das pontas soltas de que falávamos naquela noite em que Lisboa se recolhera e se agrupara em grupos de dois, ou três, para os mais ousados? Foi ali, ao ver a cidade que nos acolhe, por agora, iluminar-se de balões lançados ao destino, que nos iluminámos também.

Ele: " Neste momento nada faz sentido! Analisa o meu passado...nada! Mas é como que no futuro estivesse a resposta kármica."

Eu: " Mas essa hipótese nega o livre-arbítrio e não posso permitir-me acreditar em tal coisa. O karma já me falhou tantas vezes, o que me faz duvidar que exista..."

Ele: " Sim, mas pensa: Quantas vezes é que já te viste numa situação limite, de estagnação, sem esperança? Quantas vezes é que já superaste isso? Quantas vezes é que tiraste uma lição desse beco "sem saída" e viste as pontas soltas ligarem-se, in mysterious ways?"

Eu: " Tens razão, mas é difícil acreditar numa ordem predefinida. Seja como fôr, sei que faremos associações com muito (e) pouco sentido, que nos daremos satisfeitos e que veremos progressão. Acredito que acima de tudo, evoluímos. Quem não evolui, ou não pode, ou não quer! Nós somos os tipos que não queremos parar de evoluir nunca, que traçamos objectivos,  que fazemos bucket lists. Que só estaremos saciados quando entrarmos em putrefacção e soltarmos o fogo-fátuo."

Ele: "É. Seremos felizes!"

Eu: "Para sempre, por momentos. A solução ao teu problema é seres mais como eu e a solução do meu é ser mais como tu."

Ele: "É mesmo. A isso!" -
enquanto apagava o cigarro.

E o tempo passa. Passa mesmo. Sejam meses ou anos, às vezes são mesmo dias que marcam a diferença, que nos viram do avesso como roupa delicada saída da máquina de lavar.

Hoje quero-te  imenso e amanhã não me lembro porquê. És recente, mas tão do passado.

Já passou. O penso foi arrancado com rapidez, agradeço-te.

Depois o passado bate à porta e agora lembro-me de outras pessoas. De algo mais longínquo que nunca foi realmente embora. De algo que me faz questionar da translucidez da água que bebo. Da água. Porque sempre gostei mais de água do que de terra. Sou uma capitã romance e o que eu quero é navegar.

Bon voyage!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Time to Pick Up the Ashes and the Remains: Part I-Glue Sniffing

"-God, i'm so high on you!"

 Acho que me podia simplesmente mandar para o chão e perpetuar o que quer que fosse por mais um bocadinho. Oh, the memories! Por outro lado, sair e passear o meu cão imaginário parece-me imperativo...

 Até acordei de noite para fazer múltiplas tarefas, absolutamente grandiosas, como espalhar "A Mensagem", de varinha na mão. Mas foi o fim de tarde comigo, com o vento, com melodias estimulantes, com aquela vista que mantive sobre um ponto de vista egoísta, que me babou.

Que bom. Tirei fotografias com a câmara cerebral para rever, provavelmente, no mesmo lugar, sozinha.

Quero mais cola! A que utilizo não parece ser forte o suficiente para a segurar.


segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A Morte da Besta do Apocalipse em Lá Menor

A média luz, posso parecer meio gás.
Num ou outro momento mais fugaz, posso parecer ficar para trás.
Posso ficar na sombra, passar por despercebida.
Posso sorrir, se me apetecer.
Posso ver semear ventos, calma,
Sabendo que no fim, tempestades, também verei colher.
Posso parecer inerte, mas nunca paro.
Não parto para a violência e não é por cobardia.
E simpatia também não.
É uma regalia de quem primazia a sabedoria de ponderado ser.
Estabelecer prioridades, tranquilizar vontades, manter posturas.
É definir subtilmente posições e limites.
É não enveredar por caminhos descendentes, não proferir gírias ordinárias.
Posso permitir que me insultem, fazer-me de parva,
Deixar que a fera se gaste e desista.
E, quando o sangue arrefece, estamos no meu território.

- Podes grunhir, animal feroz! O que foi? Perdeste a voz?

Deixo que a luta seja tua porque, talvez, não valha a pena lutar pelo que reclamas teu.
Ou talvez valha porque não é de ninguém, senão de si mesmo.
Podes espernear, praguejar, podes levantar a sobrancelha que,
Ficaste para outrora.
Acredito que sejas um leopardo com pés de urso, cabeça de leão, e sete pedras na mão.
Deve custar sentires-te estagnar, ver que eu pareço ter as mãos vazias e,
No entanto, ser na minha cama que o que para ti não passa de um troféu, dorme.
Querias!

domingo, 15 de janeiro de 2012

A Prostituta

  A prostituta caminha pelas ruas da cidade decrépita. Já anoiteceu há cerca de 5 horas. Não lhe interessa saber, com exactidão, o tempo. Sente-se a pairar algures num universo paralelo isento de 4ª dimensão.
  Há pouca luz e poucos são os que se deixam iluminar. A maior parte já se entregou a naturezas de outra ordem, que não da luz. Mas a prostituta não se esconde e, enquanto se encosta ao portão de metal, mais frio que a própria noite, de um armazém caído no esquecimento, ergue a cabeça.
  Abre o seu casaco de camurça e pelo verde decadente. Sobre a pele nua tem apenas uma camisa em chiffon, que deixa adivinhar formas de mulher, de alguém que não ela. Treme de frio mas, rapidamente, o seu interior repleto de nada e açúcar, se inflama.
  Os carros vão passando. Param. É este. Entra e, é na entrega que a sua mente voa. Conclui:

“O trabalho é bom. O sexo é bom. Ambos são necessários.
Quando o trabalho é o sexo, o bom transforma-se em mau. O prazer deixa de o ser, para se tornar noutra coisa. Um veneno de espécie corrupta e danosa, qualquer coisa como marshmallows.
O trabalho passa a ser mecânico e de tanto desafiar o que mecânico não é, rasga.
Morre-se pelos sentimentos alheios, morre-se por ser demais sem se ser nunca de si mesmo.”

 Levanta a cabeça, arranja a camisa, limpa a boca, sai,“Adeus”. Volta ao seu posto e apercebe-se que morreu. Não pode ser sua outra vez porque se deixou algures.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Madrid, me gustas!

  Na rua Alonso del Cano há um apartamento espectacular...É central, espaçoso, ecléctico, mas sobretudo, acolhedor!


  Não sei se foi o movimento urbano-alegre, se foram os mercados gourmet, as praças cheias de vida, bares Imperfectos, restaurantes tipo loft, restaurantes crudeveganos com sumos, absolutamente deliciosos, de cacau puro e plátano. Se foram os bairros, a retrospectiva YSL, as ruas, os bilhetes de metro, a figura hilariante do mind the gap do metro, os antiquários que rodeiam a feira do Rastro ou uma ou outra preciosidade de loja. Atravessar estradas, a correr, de ténis, descer ruas, devagar, de saltos....Pensando bem, talvez tenham sido as luzes.

  Gosto de reformular ideias. Aliás, gostei de perceber que estava errada. Que Madrid tem mais para oferecer do que, provavelmente, eu tenho para lhe dar.

  Foi qualquer coisa como um gap no tempo. De dia estou em Lisboa, de madrugada estou em Madrid. Não há horas nem entregas. Não há pressão nem saudade. Houve só eu, três pessoas maravilhosas e, Madrid.