sábado, 9 de novembro de 2013

Parece Que Perdeste Alguém

   
Hoje conheci uma pessoa muito parecida a uma pessoa que conheci há alguns anos atrás.
   Conheci uma versão mais velha, com o mesmo tom de pele. Elas podiam ser irmãs mas se estivessem relacionadas, seria outro tipo de relação. Partilhariam o mesmo planeta, o mesmo dia. Seriam contemporâneas de si mesma. A mesma pessoa.
  
   Todos nós temos um sósia. 
   Todos os sósias são entre si mais velhos ou mais novos, mesmo que seja um fracção de segundo.
   Todos os sósias o são com letra maiúscula e cada um dono de sua personalidade.
 
  - E se todos os sósias forem o mesmo eu, em diferentes vidas?
  - E se a personalidade que os distingue for o peso ou leveza da sua vivência?  
  - E se a reencarnação, pressupondo que existe, for concebida sempre da mesma maneira? Iguais mas nem por isso com as mesmas marcas na pele.
  - E se já se tiverem esgotado todas as combinações possíveis de ADN?
  
   Andará outro eu de mim, que não seja meu, a viver coisas que nunca vivi? Posso ser eu, sem que seja de mim, sentada numa pastelaria a resolver umas palavras, de pernas cruzadas, enquanto a minha mãe esquerda que bate ritmicamente na mesa, não tem no pulso a minha cicatriz?

  Ela sorri e a outra não sorria a quem mal conhecesse. À parte disso, vestem-se da mesma maneira, maquilham os olhos que são iguais, de forma idêntica e escolhem o mesmo batom.
  Ela tem uma pequena mala e, ao tentar adivinhar a sua bagagem, a minha revela-se pesada. 
  Não me disse, mas podia ter dito que Até hoje foi sempre futuro, mas hoje "Estou aqui, presente.".
  
 Ando sempre carregada e a minha mochila leva muito mais do que lá cabe. 

 Foi com a frase que ela não disse que eu percebi que ela, apesar da semelhança, não é a outra, e que posso pousar pelo menos esta bagagem no chão.
 Nunca a conheci porque ela é outra que não a outra pessoa. Fala galego.